Privilégios x Racismo

Por: Amanda Coelho
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Privilégios x Racismo
Sempre achei natural ser contra qualquer tipo de preconceito.
Sempre considerei humanamente insensível e absurdo alguém ser destratado por causa do seu tom de pele, do seu gênero ou da sua orientação sexual.
Por algum tempo, acompanhei as notícias a esse respeito com uma dor no coração que me fazia querer evitar, não me envolver tanto pra não sofrer.
Olha só – pra não sofrer! Não achava que tinha que aprender mais sobre isso, já que era tão “natural”.
Desde o final do ano passado, tenho estudado sobre questões de gênero e me surpreendido com a infinidade de conhecimento que preciso adquirir
pra conhecer minimamente o que está por trás da desigualdade social e sexual tão presentes em nosso meio.
A questão do racismo chegou pra mim como uma surpresa e me deparei, mais uma vez, com o quanto eu ainda precisava aprender.
Apesar de ser “natural” ser contra o preconceito, eu nunca tinha questionado os meus privilégios. E, pra mim, essa questão é FUNDAMENTAL pra entender
os efeitos do racismo dentro da estrutura social. Parece fácil, mas não é.
Foi somente com a leitura do livro “Lugar de Fala” da Djamila Ribeiro que consegui começar a entender o que caberia a mim nesse lugar de luta.
Como assim eu não quero sofrer com essas notícias atrozes que chegam todos os dias?! Se alguém está sendo oprimido, é porque alguém está gozando dos
privilégios dessa opressão e, quando me vi nesse lugar, o jogo virou. E como eu fui ingênua!
Cada pessoa tem o seu lugar de fala a partir da sua perspectiva e do meio social. A partir do meu lugar de fala, reconheço como meu dever me posicionar
contra qualquer manifestação ou atitude racista, machista ou LGBTT+ fóbica, mas isso vai além de fazer um post, por isso demorei tanto pra vir aqui
falar abertamente sobre isso. Assumir essa posição é ir além de atitudes “naturais” frente a essas questões, que pareciam suficientes.
Além de postar, estou começando a ler mais autores negrxs na literatura (Maya Angelou, Conceição Evaristo, Alice Walker, Carolina Maria de Jesus, Toni Morisson)
e, nesse momento, especialmente os que falam sobre essa questão (Djamila Ribeiro, bell hooks, Lelia Gonzales, Sueli Carneiro, Audre Lorde, Angela Davis);
escutei mais música de cantores e compositores negrxs; conversei com pessoas próximas sobre essas questões e tenho seguido pessoas nas redes sociais
que compartilham conteúdo de forma responsável sobre essas questões; estou me policiando no uso de palavras que eu nem imaginava que eram racistas (denegrir, mulata, criado mudo).
Enfim, estou aqui pra me posicionar no meu lugar de fala contra qualquer tipo de manifestação preconceituosa e pra chamar quem tiver interesse a
se questionar sobre suas atitudes “naturais” pra conhecer mais sobre sua responsabilidade na sociedade. Como diria uma das minhas influenciadoras
responsáveis: “tudo é político”.
E, enquanto psicóloga, posso e devo me posicionar dessa forma, pois o Código de Ética da profissão diz que devemos contribuir para “a eliminação de
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
Imagem: @nanaths